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Compulsão Alimentar – você sofre deste mal? Faça o teste e descubra.

Mulher morde pedaço de carne espetado em garfo.
dolgachov / 123RF
Escrito por Lícia D'ávila

A compulsão alimentar tem como característica a ingestão de uma grande quantidade de alimentos, em um período de até 2 horas, mesmo que a pessoa não sinta fome. Ela traz a sensação pessoal de perda de controle diante dos alimentos e, muitas vezes, por medo da reprovação alheia ou vergonha, come-se escondido dos outros.

Sem que se consiga atingir a saciedade, o portador deste distúrbio não consegue parar de comer. Essa é a principal diferença que faz da compulsão alimentar um transtorno, e não um exagero que ocorre em uma ou outra ocasião, como em um almoço de comemoração em família, por exemplo. As desordens alimentares, que englobam a compulsão alimentar, anorexia, bulimia e a soma delas, simultaneamente, são males mentais-biológicos com um forte componente genético e influência psicológica. É um distúrbio que pode ter como consequência mais notória a aparência, o excesso de peso, com risco de desencadear doenças associadas à obesidade – que estão entre as que mais ocasionam mortes no mundo atualmente.

A depressão, sensação de fracasso e ansiedade são comorbidades psíquicas em até 70% dos casos. Também pode ocorrer abuso de álcool e drogas, assim como outros transtornos, como o TOC e a bulimia. Os exames laboratoriais não têm nenhum valor para rastreamento da compulsão, dando frequentemente resultados normais e criando no paciente a falsa ilusão de que ele não tem nada.

A compulsão alimentar pode ocorrer em certas doenças, como as genéticas (Prader-Willi), convulsões de lobo temporal do cérebro, doenças degenerativas do sistema nervoso como Alzheimer e lesões da glândula chamada hipotálamo. Quando existem “pistas”, elas devem ser investigadas e devidamente afastadas.

Mulher come uma fatia de pizza.
Andrea Piacquadio / Pexels

O excesso de privações gerado pelas dietas restritivas é um dos fatores que aumentam o risco de desenvolver a compulsão alimentar, gerando ansiedade, frustração, estresse e depressão. Problemas com a aparência, imagem corporal e dificuldade de lidar com questões emocionais são alguns dos gatilhos que também podem desencadear transtornos alimentares.

A Organização sem fins lucrativos para transtornos alimentares na Flórida, The Alliance for Eating Disorders Awareness (“The Alliance”), pontua diversas causas prováveis para desordens alimentares, como:

Fatores biológicos:

Desordens alimentares geralmente ocorrem dentro das próprias famílias, em casa. O risco de desenvolver-se compulsão alimentar é de 50% a 80% por determinação genética. Mulheres que tenham irmãs ou mãe que tenham anorexia nervosa estão 12 vezes mais propensas que outras que desenvolvam-na sozinhas. Estas pessoas estão sujeitas 4 vezes mais a desenvolverem bulimia.

Uma vez que se inicie um mecanismo de fome, compulsão ou expurgo, internamente ou externamente, tais comportamentos podem alterar a química cerebral e exacerbar a compulsão alimentar.

Fatores sociais:

A partir de uma pressão fora da realidade voltada à obtenção de um corpo perfeito, o influxo constante de imagens de perfeição e definições estreitas de beleza, a mídia e expectativas da sociedade influenciam definitivamente nossa autoestima e autovalorização. Desde uma idade tenra, aprendemos que, para sermos aceitos, devemos imitar aquilo que aprendemos nas propagandas (padrões de beleza e magreza).

Fatores psicológicos:

Desordens alimentares têm uma comorbidade substancial com outras desordens de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, desordem compulsivo-obsessiva, desordem de estresse pós-traumático e desordens de personalidade.

Fatores interpessoais:

História de abuso: estudos mostraram que um grande número de indivíduos que sofrem de desordens alimentares foram submetidos a alguma forma de abuso emocional, físico ou sexual. Muitas destas pessoas encontraram na desordem alimentar uma forma de proteção, repressão, bloqueio de suas memórias, paralisação de seus sentimentos.

Ser caçoado pelo tamanho ou peso: se a pessoa sofre bullying quando criança, pode sentir-se inclinada a ir a favor ou contra a comida como um mecanismo de cópia.

Mulher de top mede a cintura com fita métrica.
Andres Ayrton / Pexels

Eventos de vida traumáticos: desordens alimentares podem surgir como resultado de morte, perda ou abandono. Por uma incapacidade de lamentar, enfrentar, o indivíduo tentará paralisar seus sentimentos por meio de restrição, comendo e expurgando comida, ou compulsivamente.

Alguns alimentos comprovados cientificamente têm um poder viciante, aumentam a liberação de dopamina, provocando sensação de prazer, e estimulam o consumo de mais comidas, provocando um ciclo sem fim. O cérebro humano tem um mecanismo de recompensa ativado quando a pessoa ingere produtos calóricos, o que gera compulsão. Produtos muito calóricos ou ricos em açúcar e gordura têm esta capacidade de ativar o ciclo de recompensa cerebral e estimular a ingestão de mais e mais alimentos.

A ESCALA DE COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA – BES (BINGE EATING SCALE), auxilia as pessoas a identificarem em qual grau de compulsão alimentar se encaixam.

No teste abaixo, encontram-se grupos de afirmações numeradas. Para realizar o teste, deve-se ler todas as afirmações em cada grupo e marcar aquela que melhor descreve o modo como se sente em relação aos problemas relacionados ao comportamento alimentar.

1.

( ) 1. Eu não me sinto constrangido(a) com o meu peso ou o tamanho do meu corpo quando estou com outras pessoas.

( ) 2. Eu me sinto preocupado(a) quando penso em como pareço para os outros, mas isso, normalmente, não me faz sentir desapontado(a) comigo mesmo(a).

( ) 3. Eu fico mesmo constrangido(a) com a minha aparência e o meu peso, o que me faz sentir desapontado(a) comigo mesmo(a).

( ) 4. Eu me sinto muito constrangido(a) com o meu peso e, frequentemente, sinto muita vergonha e desprezo por mim mesmo(a). Tento evitar contatos sociais por causa desse constrangimento.

2.

( ) 1. Eu não tenho nenhuma dificuldade para comer devagar, de maneira apropriada.

( ) 2. Embora pareça que eu devore os alimentos, não acabo me sentindo empanturrado(a) por comer demais.

( )3. Às vezes tendo a comer rapidamente, sentindo-me, então, desconfortavelmente cheio(a) depois.

( ) 4. Eu tenho o hábito de engolir minha comida sem realmente mastigá-la. Quando isso acontece, em geral, me sinto desconfortavelmente empanturrado(a) por ter comido demais.

3.

( ) 1. Eu me sinto capaz de controlar meus impulsos para comer, quando eu quero.

( ) 2. Eu sinto que tenho falhado em controlar meu comportamento alimentar mais do que a média das pessoas.

( ) 3. Eu me sinto totalmente incapaz de controlar meus impulsos para comer.

( ) 4. Por me sentir tão incapaz de controlar meu comportamento alimentar, entro em desespero tentando manter o controle.

4.

( ) 1. Eu não tenho o hábito de comer quando estou chateado(a).

( ) 2. Às vezes eu como quando estou chateado(a), mas, frequentemente, sou capaz de me ocupar e afastar minha mente da comida.

( ) 3. Eu tenho o hábito regular de comer quando estou chateado(a), mas, de vez em quando, posso usar alguma outra atividade para afastar minha mente da comida.

( ) 4. Eu tenho o forte hábito de comer quando estou chateado(a). Nada parece me ajudar a parar com esse hábito.

5.

( ) 1. Normalmente, quando como alguma coisa é porque estou fisicamente com fome.

( ) 2. De vez em quando como alguma coisa por impulso, mesmo quando não estou realmente com fome.

( ) 3. Eu tenho o hábito regular de comer alimentos que realmente não aprecio para satisfazer uma sensação de fome, mesmo que, fisicamente, eu não necessite de comida.

( ) 4. Mesmo que não esteja fisicamente com fome, tenho uma sensação de fome em minha boca que somente parece ser satisfeita quando eu como um alimento, tipo um sanduíche, que enche a minha boca. Às vezes, quando eu como o alimento para satisfazer minha “fome na boca”, em seguida eu o cuspo, assim não ganharei peso.

6.

( ) 1. Eu não sinto qualquer culpa ou ódio de mim mesmo(a) depois de comer demais.

( ) 2. De vez em quando sinto culpa ou ódio de mim mesmo(a) depois de comer demais.

( ) 3. Quase o tempo todo sinto muita culpa ou ódio de mim mesmo(a) depois de comer demais.

7.

( ) 1. Eu não perco o controle total da minha alimentação quando estou de dieta, mesmo após períodos em que como demais.

( ) 2. Às vezes, quando estou de dieta e como um alimento proibido, sinto como se tivesse estragado tudo e como ainda mais.

( ) 3. Frequentemente, quando como demais durante uma dieta, tenho o hábito de dizer para mim mesmo(a): “Agora que estraguei tudo, porque não irei até o fim”. Quando isso acontece, eu como ainda mais.

( ) 4. Eu tenho o hábito regular de começar dietas rigorosas por mim mesmo(a), mas quebro as dietas entrando numa compulsão alimentar. Minha vida parece ser “uma festa” ou “um morrer de fome”.

8.

( ) 1. Eu raramente como tanta comida a ponto de sentir-me desconfortavelmente empanturrado(a) depois.

( ) 2. Normalmente, cerca de uma vez por mês, como uma tal quantidade de comida que acabo me sentindo muito empanturrado(a).

( ) 3. Eu tenho períodos regulares durante o mês, quando como grandes quantidades de comida, seja na hora das refeições, seja nos lanches.

( ) 4. Eu como tanta comida que, regularmente, me sinto bastante desconfortável depois de comer e, algumas vezes, um pouco enjoado(a).

9.

( ) 1. Em geral, minha ingestão calórica não sobe níveis muito altos, nem desce níveis muito baixos.

( ) 2. Às vezes, depois de comer demais, tento reduzir minha ingestão calórica para quase nada, para compensar o excesso de calorias que ingeri.

( ) 3. Eu tenho o hábito regular de comer demais durante à noite. Parece que a minha rotina não é estar com fome de manhã, mas comer demais à noite.

( ) 4. Na minha vida adulta tenho tido períodos, que duram semanas, nos quais praticamente me mato de fome. Isso se segue em períodos em que como demais. Parece que vivo uma vida de “festa” ou de “morrer de fome”.

10.

( ) 1. Normalmente eu sou capaz de parar de comer quando quero. Eu sei quando “já chega”.

( ) 2. De vez em quando, eu tenho uma compulsão para comer que parece que não posso controlar.

( ) 3. Frequentemente, tenho fortes impulsos para comer, parece que não sou capaz de controlar, mas, em outras ocasiões, posso controlar meus impulsos para comer.

( ) 4. Eu me sinto incapaz de controlar impulsos para comer. Eu tenho medo de não ser capaz de parar de comer por vontade própria.

11.

( ) 1. Eu não tenho problema algum para parar de comer quando me sinto cheio(a).

( ) 2. Eu, normalmente, posso parar de comer quando me sinto cheio(a), mas, de vez em quando, comer demais me deixa desconfortavelmente empanturrado(a).

( ) 3. Eu tenho um problema para parar de comer uma vez que eu tenha começado e, normalmente, me sinto desconfortavelmente empanturrado(a) depois que faço uma refeição.

( ) 4. Por eu ter o problema de não ser capaz de parar de comer quando quero, às vezes tenho que provocar o vômito, usar laxativos e/ou diuréticos para aliviar minha sensação de empanturramento.

12.

( ) 1. Parece que eu como tanto quando estou com os outros (reuniões familiares, sociais), como quando estou sozinho(a).

( ) 2. Às vezes, quando estou com outras pessoas, não como tanto quanto eu quero comer, porque me sinto constrangido(a) com o meu comportamento alimentar.

( ) 3. Frequentemente eu como só uma pequena quantidade de comida quando outros estão presentes, pois me sinto muito embaraçado(a) com o meu comportamento alimentar.

( ) 4. Eu me sinto tão envergonhado(a) por comer demais que escolho horas para comer demais quando sei que ninguém me verá. Eu me sinto como uma pessoa que se esconde para comer.

13.

( ) 1. Eu faço três refeições ao dia com apenas um lanche ocasional entre as refeições.

( ) 2. Eu faço três refeições ao dia, mas, normalmente, também lancho entre as refeições.

( ) 3. Quando eu faço lanches pesados, tenho o hábito de pular as refeições regulares.

( ) 4. Há períodos regulares em que parece que eu estou continuamente comendo, sem refeições planejadas.

14.

( ) 1. Eu não penso muito em tentar controlar impulsos indesejáveis para comer.

( ) 2. Pelo menos, em algum momento, sinto que meus pensamentos estão “pré-ocupados” tentando controlar meus impulsos para comer.

( ) 3. Frequentemente, sinto que gasto muito tempo pensando no quanto comi ou tentando não comer mais.

( ) 4. Parece, para mim, que a maior parte das horas que passo acordado(a) estão “pré-ocupadas” com pensamentos sobre comer ou não comer. Sinto como se eu estivesse constantemente lutando para não comer.

15.

( ) 1. Eu não penso muito sobre comida.

( ) 2. Eu tenho fortes desejos por comida, mas eles só duram curtos períodos de tempo.

( ) 3. Há dias em que parece que eu não posso pensar em mais nada a não ser comida.

( ) 4. Na maioria dos dias, meus pensamentos parecem estar “pré-ocupados” com comida. Sinto como se eu vivesse para comer.

16.

( ) 1. Normalmente, sei se estou ou não fisicamente com fome. Eu como a porção certa de comida para me satisfazer.

( ) 2. De vez em quando eu me sinto em dúvida por não saber se estou ou não fisicamente com fome. Nessas ocasiões, é difícil saber o quanto eu deveria comer para me satisfazer.

( ) 3. Mesmo que eu pudesse saber quantas calorias eu deveria ingerir, não teria ideia alguma de qual seria a quantidade “normal” de comida para mim.

Some os valores ao lado dos parênteses marcados e verifique abaixo seu score.

Resultados/Scores:

• Menor ou igual 17 = Normal.

• Entre 17 e 30 = Variação de inclinação ao comer muito (de nada a muito).

• 30 ou mais = Compulsão alimentar periódica.

Mulher segura uma tigela de porcelana branca e uma colher com frutas. Ela sorri e intenciona comer as frutas. O cenário é de uma cozinha.
Nathan Cowley / Pexels

Alguns fatores podem contribuir para a manifestação da compulsão alimentar, assim identificar a origem das crises pode trazer grandes contribuições ao tratamento, uma vez que direcionar o tratamento à causa correta resulta em uma solução mais rápida e eficiente.

A Terapia Cognitivo Comportamental, efetuada com o apoio de um psicólogo especializado em transtornos alimentares, é reconhecidamente um tratamento para esses transtornos. Além do psicólogo, o auxílio de um nutricionista especializado, assim como do psiquiatra, perfaz o grupo de profissionais capazes de auxiliar o paciente na recuperação.

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Exercícios físicos regulares, meditação, yoga, técnicas de alimentação mindfulness ou atenção plena trazem, igualmente, excelentes resultados terapêuticos na compulsão alimentar.

Fonte: Psychiatry on line Brasil.

Sobre o autor

Lícia D'ávila

Lícia D’Ávila é profissional graduada e pós-graduada em tecnologia da informação pela USP, e nutricionista, com projeto de pesquisa científica pelo CNPq. Completou seus estudos em Paris, França, onde residiu por três anos.

Especialista em exames hematológicos pelo Instituto de Nutrição Avançada, idealizadora da comunidade Facebook de portadores de compulsão alimentar Pare com a Compulsão Alimentar, Siga Revigorando a Saúde.

Curso pela Harvard Medical School em performance cognitiva, Cognitive Fitness.

Especialização pela Harvard Medical School em imunologia (sistema imunológico, alergias e intolerâncias alimentares).

Curso de iniciação em fitoterapia (USP).

Apaixonada pela ciência da nutrição e em constante busca de conhecimentos e atualização científica. É determinante que o alimento destinado a cada organismo seja individualmente planejado. Esse é o verdadeiro remédio no tratamento de grande parte das doenças.

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