Nutrição Saúde Integral

Doença Renal Crônica: Nutrição, Educação e Conscientização

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Dia Mundial do Rim, na verdade, é um alerta para combater o crescimento da doença renal crônica em curso e foi escolhido como marco a segunda quinta-feira do mês de março para que sejam trabalhadas as ações de prevenção, conscientização e controle da doença.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), um em cada dez brasileiros tem problemas nos rins. Quinze milhões de brasileiros têm algum grau de comprometimento das funções renais e mais de 70% dos pacientes que entram em tratamento de diálise não sabiam que estavam com a doença.

A Doença Renal Crônica (DRC) é definida como anormalidade da estrutura ou função dos rins, presente por mais de três meses e com implicações para a saúde (National Kidney Foundation, 2013). Os rins são os principais órgãos responsáveis pela eliminação de toxinas e substâncias que não são mais utilizadas pelo organismo. São fundamentais para manter os líquidos e sais do corpo em níveis adequados, além de realizarem importante papel no metabolismo ósseo e mineral, sendo o local de ativação da vitamina D e, principalmente, órgão-alvo de diversos hormônios envolvidos no controle do cálcio e fósforo corporais.

O diagnóstico precoce e o acompanhamento nutricional podem ajudar a prevenir que a doença progrida

Atualmente, a DRC é uma preocupação crescente e com potencial para se tornar um grave problema de saúde pública, por ser tratar de uma doença silenciosa, que aumenta à medida que a Obesidade e outros fatores de risco favorecem o desenvolvimento da hipertensão e do diabetes, considerados os principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças renais. Além desses, histórico familiar, tabagismo, medicamentos, dieta rica em proteína animal e sal e o envelhecimento da população continuam a fazer parte deste quadro. A evolução é lenta e, em geral, assintomática, no entanto, sintomas como cansaço, perda do apetite, fraqueza, palidez cutânea, anemia, aumento da pressão arterial, inchaço e sangue na urina, aparecem quando o funcionamento dos rins está comprometido em pelo menos 50%.

Sendo assim, já é conhecido que a obesidade, a hipertensão arterial e o diabetes são os principais grupos de doenças crônicas não transmissíveis que, entretanto, são passíveis de prevenção por meio da educação e conscientização, principalmente pela mudança no estilo de vida, alimentação adequada e atividade física, fatores que contribuem para a diminuição de complicações e consequentemente da evolução para a DRC.

Desta forma, alertar a população por meio de medidas simples, parece ser o caminho para a mobilização. Atualmente, há evidências científicas que apontam que a obesidade também é um potente fator de risco para o desenvolvimento da DRC e da doença renal terminal. As pessoas com sobrepeso ou obesas têm de 2 a 7 mais chances de desenvolver e evoluir para o estágio final da doença renal em comparação com as de peso normal. Ressaltam ainda, que a obesidade pode levar à DRC tanto indiretamente pelo aumento da diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardíacas, como também por danos renais direto, aumentando a carga de trabalho dos rins para satisfazer as exigências metabólicas do aumento do peso corporal e outros mecanismos, reforçando, que reduzir a obesidade pode reverter ou retardar a progressão da DRC.

O tratamento clínico com o médico Nefrologista objetiva evitar outras complicações. Em muitos casos, o diagnóstico precoce e o acompanhamento nutricional nas fases iniciais podem ajudar a prevenir que a doença progrida para estágios mais avançados (inclusive com a necessidade de diálise e até transplante de rim).

No diagnóstico, poderão ser incentivadas medidas para evitar a progressão da doença tais como mudanças de estilos de vida e hábitos alimentares, controle da pressão arterial, do colesterol e do diabetes, sendo este último muito relevante tanto para a saúde renal quanto à saúde geral dos indivíduos, conforme artigo já publicado aqui no Eu Sem Fronteiras.

A orientação Dietética do paciente renal é complexa e depende da fase do tratamento em que se encontra, considerando que é uma doença que, por si só, compromete a condição nutricional devido diversas alterações hormonais e metabólicas que acometem o indivíduo.

Sendo assim, a prescrição da dieta e orientações nutricionais serão específicas para os que possuem lesão renal, mas que não necessitam de diálise, conhecido como tratamento conservador e para aqueles que estão submetidos ao tratamento dialítico, seja na hemodiálise ou diálise peritoneal, procedimentos que tem como objetivo a reposição das funções dos rins, permitindo a manutenção do equilíbrio de água e sais minerais compatíveis com a vida.

O Nutricionista envolvido no tratamento deverá traçar condutas que atentam as necessidades nutricionais, melhor aceitação por meio de dietas mais palatáveis, evitando assim restrições muito severas que podem levar o paciente à desnutrição. No entanto, também cabe ao paciente desenvolver a conscientização da importância do seu tratamento e aderir às recomendações da dieta, evitando complicações e prejuízos que podem ser irreversíveis. Neste contexto, o trabalho multiprofissional no acompanhamento faz-se necessário. Médico, enfermeiro, nutricionista, psicólogo e educador físico, são os profissionais que vão ajudar o paciente a seguir e obter melhor proveito do tratamento.

O cuidado e a prevenção da obesidade, hipertensão e diabetes são possíveis através da modificação do estilo de vida: praticar atividade física, cuidar da alimentação, evitar o tabagismo e o uso excessivo de álcool, são fatores que influenciam tanto no aparecimento como na progressão da doença. Uma alimentação adequada, especialmente no que se refere ao consumo de sal, gorduras e redução dos níveis de colesterol, apresenta benefícios no tratamento desses pacientes, não só para os rins, mas também para o sistema cardiovascular.

A Pesquisa de Orçamento Familiares (POF/IBGE-2008) e pesquisa Vigitel 2013 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), mostram que o consumo estimado de sódio na população brasileira é elevada e excede em mais de duas vezes o limite máximo recomendado pela OMS, a qual orienta a ingestão máxima de cinco gramas por dia. O brasileiro costuma ingerir em média 12 gramas. Cada 5 gramas de sal possuem 2 gramas de sódio. Portanto, ações de conscientização para diminuição deste consumo devem ser encorajadas.

Para cada fase uma dieta

O planejamento da dieta deve ser realizado pelo profissional nutricionista de forma individualizada, considerando a avaliação do estado nutricional, hábitos alimentares e exames laboratoriais. A característica da dieta vai depender da progressão e ação medicamentosa, neste momento o desenvolvimento do vínculo com o paciente facilitará o entendimento e melhor adesão à dieta que, em geral, poderá sofrer restrição de nutrientes: como proteínas, potássio, fósforo e líquidos.

A alimentação adequada, apresenta benefícios no tratamento desses pacientes.

Fase não dialítica

O indivíduo apresenta lesão renal, mas o organismo consegue manter o equilíbrio com a adequação dos nutrientes, principalmente os alimentos fontes de proteína como: carnes, ovos, leites e derivados. É de extrema importância que não sejam retirados totalmente da dieta e sim indicada a quantidade e qualidade da proteína para que o estado nutricional do paciente não seja prejudicado. É recomendável restrição de sal e, em alguns momentos, poderá ocorrer restrição de alimentos que contenham muito potássio, fósforo e até mesmo o controle de líquido, tudo dependerá da evolução clínica do paciente.

Fase dialítica

A diálise funciona como terapia substitutiva das funções do rim. No entanto, é preciso repor alguns nutrientes que são perdidos durante o tratamento. Nesta fase, a recomendação de proteína aumenta, assim como existe a necessidade de suplementação de vitaminas.

É muito comum que pacientes em diálise também apresentem aumento de potássio e fósforo no sangue. O equilíbrio por meio da diálise é ineficiente, exigindo a necessidade de orientação nutricional especifica para este fim e, se necessário, a introdução de medicamentos que também auxiliem o processo.

Alerta para Potássio e Fósforo

As fontes de alimentos ricos em potássio são frutas, verduras e legumes. São recomendadas técnicas de preparo que diminuam a quantidade de potássio que consiste em descascar, fervê-los e desprezar a água de cocção ao final e finalizar a preparação. Atenção especial deve ser dada para frutas como abacate, banana-nanica, banana-prata, figo, laranja, maracujá, melão, tangerina, uva, mamão, goiaba, kiwi, açaí, frutas secas, água de coco, além do feijão, chocolate e extrato de tomate.

O excesso de fósforo é eliminado por meio dos rins, portanto, no paciente que tem insuficiência renal, há acúmulo no sangue. Deve ser evitado embutidos (salsicha, mortadela, linguiça, salame, presunto, etc), miúdos (moela, fígado, coração, sarapatel, dobradinha, chouriço, etc), produtos industrializados, oleaginosas (amendoim, castanhas, nozes), peixes (sardinha, atum, bacalhau, salmão e frutos do mar), gema de ovo, refrigerantes de cola e chocolates. A quantidade de leite, queijos e derivados devem ser orientados individualmente pelo nutricionista.

Controle de sal e líquidos

A restrição de sal (sódio) é muito importante. É recomendado usar o mínimo possível de sal no preparo dos alimentos. O preparo deve ser sem sal e ao final pode ser feito o acréscimo de 1g de sal no almoço e jantar, evite a utilização de temperos prontos, alimentos enlatados, sucos em pó, salames, queijos, linguiça, salsicha, molhos prontos, entre outros produtos industrializados.

A ingestão de líquidos, de uma forma geral, deve ser controlada para evitar acúmulo e consequentemente, o “inchaço” entre uma sessão e outra de diálise: café, chá, água, refrigerantes, sopas e frutas ricas em água, também são considerados líquido da dieta e devem seguir a prescrição médica e recomendação do profissional nutricionista.

Atenção à Carambola

A carambola, ou o suco da fruta, é o único alimento proibido para qualquer paciente com doença renal crônica. A fruta contém uma substancia tóxica que pode levar o paciente à morte.

Vale ressaltar também que pacientes no estágio final da doença renal, que conseguem ser submetidos ao transplante renal, necessitam de acompanhamento nutricional que contribuirá com a boa evolução clínica e controle metabólico, assim como também evitar ganho de peso futuro, prejudicial para o paciente.

Fique atento à nutrição, hábitos saudáveis e com a saúde do seu rim!

Receitas

Apostes nas ervas e temperos naturais para compor sua alimentação!

Caldo de ervas aromáticas in natura

  • 1 cebola grande;
  • 2 dentes de alho sem casca;
  • 1 maço pequeno de cebolinha sem talos;
  • 1 maço salsinha sem talos;
  • 1 pimentão sem sementes;
  • 1 colher de sopa de azeite de oliva;
  • 1 colher de sopa de vinagre branco;
  • 1g de sal ou 1 colher rasa de café.

Misture todos os ingredientes e bata tudo no liquidificador, após obter uma mistura homogênea coloque em forminhas de gelo e congele. Utilize a mistura para temperar.

Caldo de ervas secas

  • 25g de manjericão*;
  • 10g de salsinha*;
  • 100g de sal marinho;
  • 10g de alecrim*;
  • 15g de orégano*;
  • 3 colheres de sopa de azeite de oliva extra virgem.

Misture todas as ervas secas em um recipiente. Após, espalhe em forminhas de gelo e congele. Depois do congelamento é só desenformar e guardar em saquinhos plásticos no freezer.

*Quantidades relativas ao peso das embalagens disponíveis no mercado

Mix de ervas para assados (carne bovina, porco e ave)

  • 2 colheres de sopa de pimenta do reino branca em grão;
  • 1 colher de sopa de coentro em grão ou em pó;
  • 3 colheres de sopa de manjericão seco;
  • 2 colheres de sopa de cravo;
  • 1 colher de sopa de mostarda em grão;
  • 4 colheres de sopa de louro em pó.

Bata todos os ingredientes no liquidificador e guarde em um pote de vidro tampado na geladeira.

Caldo de legumes

  • 1 litro de água;
  • 1 alho-poró;
  • 2 tomates;
  • 1 cenoura grande ralada;
  • 1 pé de espinafre pequeno;
  • 1 maço de cebolinha;
  • 1 maço de salsicha;
  • 2 ramos de alecrim;
  • 1 cebola média;
  • 2 dentes de alho;
  • 1g de sal marinho.

Você também pode gostar:

Em uma panela, acrescente a água, deixe ferver e vá colocando todos os ingredientes. Cozinhe em fogo brando por 15 minutos, retire do fogo e deixe esfriar. Em seguida, bata no liquidificador, coloque em forminhas de gelo e congele.


Referências Bibliográficas

Sesso RCC, Lopes AA, Thomé FS, Lugon JR, Watanabe Y, Santos DR. Diálise crônica no Brasil – Relatório do Censo Brasileiro de Diálise, 2011. J Bras Nefrol 2012;34:272-7. DOI.

Sesso, RC, Lopes AA, Thomé FS, Lugon JR Martins CT. Inquérito Brasileiro de Diálise 2014.J Bras Nefrol 2016;38(1):54-61

Bastos MG, Bregman R, Kirsztajn GM. Doença renal crônica: frequente e grave, mas também prevenível e tratável. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 248-53

Diretrizes brasileiras de obesidade. 2016 / ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. – 4.ed. – São Paulo, SP

Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016) / Adolfo Milech…[et. al.]; organização José Egidio Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio – São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016.

Cuppari, Lilian. Nutrição nas doenças crônicas não-transmissíveis. Manole, SP,2009.

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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Censo de 2010. 2014.

Doença renal crônica atinge 10% da população mundial. Ministério da Saúde, 2015

Sociedade Brasileira de Nefrologia. Censo de diálise.2012.

World Kidney Day

Kovesdy Csaba P ,Furth Susan L., Zoccali Carmine. Obesity and kidney disease: hidden consequences of the epidemic. Kidney International.2016 in press.

Sharon Stall, RD, MPH, and Joseph A. Vassalotti, MD. Obesity, hypertension, and chronic kidney disease International Journal of Nephrology and Renovascular Disease.

Sobre o autor

Dra. Vilani Figuiredo Dias

Mestre em Ciências da Nutrição - Nefrologia - Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP

Nutricionista, formada pelo centro universitário São Camilo e Mestre em Ciências da Nutrição, pós graduada pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP com enfoque em doença renal crônica - Nefrologia.

Atuação profissional no departamento de nutrição clínica do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Trabalhou como Docente- Coordenadora de cursos técnicos e livres na área de nutrição e dietética no Senac São Paulo. Entre as atividades atuais desenvolve atendimento clínico nutricional em consultório e Home Care com ampla experiência em Nutrição Clínica e Rotina Hospitalar envolvendo atendimento Clínico de Paciente Renal em tratamento conservador e em Hemodiálise, Cardiologia, Diabetes e Oncologia.

Realiza Consultoria Técnica em nutrição e saúde, palestras e Workshop na área de docência em nutrição, atua como Docente das disciplinas: Nutrição clínica, Fisiopatologia, Dietoterapia, Gastronomia Hospitalar, Bioquímica Metabólica, Bromatologia, Nutrição nos diferentes estágios da vida, Educação Alimentar e Nutricional, Orientação de projetos, Acompanhamento e Supervisão de Estágios, além de coordenação de projetos de educação nutricional corporativos em instituições públicas e privadas.

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