Energia em Equilíbrio

Entrevista com Arjun Das sobre Medicina Ayurveda — Parte 2

Escrito por Eu Sem Fronteiras

Ayurveda é uma ciência que tem uma história de cinco mil anos. Muitos estudiosos afirmam que ela é mais antiga, mas esse período é citado em todas as escrituras e literaturas, para facilitar a referência didática.

Ela nasceu no território que hoje é conhecido com a Índia. Naquele tempo, não havia essa divisão geopolítica que existe agora, então foi algo natural os povos vizinhos se influenciarem por esse modelo encantador e brilhante.

Todos esses povos, como os Nepaleses, Tibetanos, Butaneses, Chineses, até mesmo os Árabes e Gregos, foram influenciados por este pensamento. Era um momento em que o Mundo circulava e transitava intensamente, referenciando e contemplando fontes de sabedoria, buscando por filósofos e comunidades em torno deles.

Naturalmente, o Ayurveda circulou pelo mundo e, nos anos 80, através de iniciativas de intercâmbio entre secretarias de saúde de alguns estados (como Goiás e Rio de Janeiro), ele começou a surgir no Brasil.

Houve uma troca de informações de profissionais do Brasil com a Índia, e vice-versa, para conhecer um pouco mais sobre o sistema de saúde pública de cada país e verificar quais eram sua dificuldades e semelhanças, no sentido de saneamento, estrutura, etc.

A Índia ofereceu muito ao Brasil e os brasileiros também puderam compartilhar muitas informações. Ambos aprenderam e ensinaram.

Esse conhecimento da medicina Ayurvédica também surgiu através da literatura. Vários professores dentro da tradição da Ioga, da filosofia e história indiana citavam sutilmente em suas obras o sistema. Mesmo no início do século passado, alguns livros já falavam sobre a meditação, pensadores místicos e filósofos orientais. Já se tinha alguma apresentação inicial sobre esse sistema Ayurvedico, mas ele chega no Brasil de uma forma mais estruturada,.

A entrada no Brasil acontece a partir de alguns representantes, alguns médicos indianos que se identificaram bastante com a cultura brasileira e inclusive ficaram no país, compartilhando seu conhecimento com os colegas de profissão. Surgiram vários cursos livres e, progressivamente, o sistema foi mostrando-se eficaz ao trazer resultados. Naturalmente, as pessoas começaram a  buscar mais informações sobre o assunto.

O sistema Ayurvédico é muito amplo. Quando falamos de terapias corporais, por exemplo, é possível citar 27 técnicas diferentes.

São várias práticas voltadas somente para o corpo, como a aplicação local, tópica, oleozão completa, o uso de sal nos banhos, aplicação de terra, de areia,  de argila, sem contar as técnicas invasivas de limpeza, de purificação, dos canais de eliminação e, principalmente, dos sentidos.

O Brasil recebeu muito bem esse sistema. Ele tem toda uma capacidade de trazer uma potência, uma forma e um efeito bem interessante.

Eu Sem Fronteiras: Quando começou a trabalhar com a medicina Ayurvédica?

Arjum Das: Eu trabalho com a Ayurveda exclusivamente em minha vida desde 1998. Lá atrás, na década de 90, eu tinha sido informado sobre este trabalho que estava acontecendo, por exemplo, em algumas regiões do país com alguns médicos indianos visitando o Brasil.

Evidentemente, naquela época não havia uma estrutura de telefonia móvel, como existe hoje. O contato era por comunicação e, se comparado com a de hoje, com certa dificuldade.

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Só era possível checar uma informação quando algum professor ou médico havia voltado da Índia. Foi assim, com bastante paciência e persistência que esse trabalho foi acontecendo.

Lembro-me de ter ouvido sobre o Eveda a primeira vez em 1992. A partir dali, aquilo despertou em mim um chamado, e eu me dediquei a estudar sobre isso. Inicialmente, de uma forma meio autodidata, colhendo materiais, apostilas e livros estrangeiros.

E minha busca foi avançando conforme a disponibilidade da internet foi surgindo no mundo e no Brasil. Isso foi incrível, porque da noite para o dia, passei a ter acesso à todas as pessoas que estavam de certa forma numa jornada de busca como a minha, e ao mesmo tempo me deparei com publicações já muito estruturadas.

Um exemplo são obras de autismo clástico, do Dr. Van San de Lad, que foi o primeiro nome de Ayurveda que encontrei na internet. Na opinião da maioria, ele é hoje a principal referência sobre o sistema de Ayurveda fora da Índia. Já estive com ele e tive a honra de ter sido seu aluno.

Eu Sem Fronteiras: Como conheceu o Ayurveda?

Arjun Das: Depois de fazer várias leituras, minhas fontes de informações no Brasil se esgotaram e então, tive que buscar fora. Foi aí que tive contato com professores no Estados Unidos, Europa, até chegar na fonte, na índia, que foi onde fiz a minha certificação no Ayurveda, em 2003.

Antes disso, entre 92 e 2003, eu tinha contato com os professores que atuavam aqui no Brasil. Depois de ter estudado e feito todos os cursos disponíveis de Ayurveda que tinham por aqui, o meu trabalho começou a crescer. Nessa mesma época, também trabalhava na área de comunicação social – como design gráfico – dentro de uma editora.

Saí dessa editora e tive vontade de orientar as pessoas com um pouquinho de conhecimento. Até então, eu não tinha nenhuma perspectiva ou vontade de que aquilo se torna-se uma capacitação profissional.

Peguei todo aquele conhecimento e fui aplicando em minha vida. Eu já estava no caminho do Ioga, então a Ayurveda foi se integrando naturalmente, complementando essa minha experiência e amadurecendo minha jornada no Ioga.

O  Ayurveda e o Ioga possuem propostas parecidas – são métodos que oferecem união e contentamento. Quando isso aconteceu, eu finalizei minha carreira como designer e fiquei com o tempo totalmente disponível para estudar e me qualificar mais.

Passei a orientar algumas pessoas e as coisas foram acontecendo muito rápido. Logo iniciei um atendimento mais organizado dentro de um espaço, onde as pessoas compareciam. A partir dali, alguns convites surgiram para que eu pudesse fazer a mesma coisa em um outro estado, no Rio de Janeiro.   

Eu era de Minas, da região de Belo Horizonte. Então, fui para o Rio de Janeiro, para dar uma palestra, e nesse encontro algumas pessoas desejaram fazer atendimentos. Desses atendimentos, tiveram alguns retornos, e ali observei a necessidade das pessoas de terem um conhecimento de uma forma mais organizada, e não simplesmente com palestras. Assim, sistematizamos essa cultura do bem-estar e foi quando eu lancei meu primeiro curso de Ayurveda , em torno de 1999.

A partir dali, comecei a fazer um trabalho mais organizado com cursos, convidando as pessoas para se especializarem na Ayurveda. Isso aconteceu por volta de 2011. De lá pra cá, convite após convite, fui cobrindo varias regiões e foi muito gratificante observar como houve uma excelente recepção.

Desde 2011, estivemos em 11 estados do Brasil levando o curso, e em nenhum houve rejeição, resistência ou dificuldade de compreender o processo Ayurvédico.

É fascinante, as pessoas podem aproveitar da minha medicina Ayurveda em vários níveis. É possível aproveitar o conceito, como viver mais e melhor prestando atenção no seu organismo, respeitando seus limites e ao mesmo tempo dando abertura e espaço para sua expressão de grande potência, da sua grande força e sua assinatura.

É incrível como as pessoas também podem utilizar o conhecimento Ayurvédico na cozinha, simplesmente por integrar a força de temperos funcionais e a potência, a magia que está por trás das especiarias, das  saladas, das combinações de sabores, do entendimento de como isso pode provocar um saudável estado de ânimo, promover um grau de abertura de expansão de consciência através da ciência dos sabores na alimentação diária.

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Você pode integrar o uso do saber do Ayurveda no seu dia a dia pelo toque, semeando a cultura de abraço, de carinho, que é uma forma mais nutritiva para o nosso organismo e, a partir daí, presentear as pessoas que convivem com você com uma massagem, com uma presença, o famoso carinho com a mão livre, com o coração aberto, onde a alma aberta vai e direciona, porque ela já sabe reconhecê-la muito antes do intelecto, ela já é plena nesse sentido.

Confira a primeira parte dessa entrevista e a última parte.


  • Entrevista concedida a Angélica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras.

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