Autoconhecimento

O Desapego

Mãos abertas libertando borboletas ao céu ensolarado.
123RF / Luigi Giordano
Escrito por Anne Moon

Por Anne Moon. 3 de dezembro de 2019.

O desapego, o ato de não se prender a coisas ou pessoas ou, para muitos, a liberdade. Vejo que há uma confusão com esse conceito, tão falado hoje em dia, apesar de ser bastante mencionado pelo budismo há milhares e milhares de anos, então vamos falar sobre e desmistificar o desapegar.

No budismo, uma das doutrinas é o desapego, que seria a forma de viver mais leve, de atingir a iluminação e evoluir. Tudo isso porque o apego é a raiz de todo sofrimento.

Quando se fala em apegar, é se apegar ao passado, ao futuro, às pessoas, às coisas, pois existe a impermanência, que não garante que nada disso fique em sua vida, ou que fiquemos nesse plano para usufruir de tudo o que está ao nosso redor.

O apego vem do ego em excesso, pois ele nos prende em um ciclo vicioso.

É nesse ponto em que há uma confusão enorme. Uns pensam que desapegar é não se conectar emocionalmente com ninguém, desconsiderar as coisas e pessoas, viver seguindo apenas os instintos e sempre vivendo no limite, que não devo filtrar as coisas e pessoas que quero em meu círculo social.

Nós desde crianças, somos criados com a crença de permanência, que tudo é fixo, determinado, nada muda, tudo é o que é e ponto final. Sendo assim, quando algo sai de rota em nossas vidas, entramos no sofrimento e nos desequilibramos, não é mesmo?

Por exemplo, você tem algum plano criado, mas no meio do caminho algo acontece que coloca tudo água abaixo, ou que te obriga a remanejar um pouco as coisas e isso nos desestabiliza, ficamos sem saber o que fazer.

Buda diz que o apego é a expressão da nossa mente cheia de desejos vindos do ego. Veja o ego não como um monstro insaciável, mas como uma criança que precisa de limites, de entender como a vida é. Quando o ego fala muito alto, ficamos na ânsia de realizar todos os nossos desejos, focamos apenas no “eu”, no que Eu preciso, Sinto e Quero e não no que o outro precisa, sente e quer, no sentido de se doar pelas pessoas.

Mulher de costas com os cabelos esvoaçantes, em frente a um rio com árvores em volta.
Foto de Dominika Roseclay no Pexels

Quando você compreende que a vida é muito mais doar do que receber, você despertou e evoluiu. Sim, pois o fluxo do universo funciona assim, doar para receber, simplesmente pelo ato em si e todos agindo assim. Afinal, esse momento de isolamento social, dessa pandemia, essa nova década em si se mostrou um momento para além de darmos atenção ao nosso interior, darmos mais atenção ao nosso próximo, ao universo que é o nosso lar.

O apego é o ego gritando para ser satisfeito. Seja em uma compulsão por comida, bebida ou qualquer coisa lícita e ilícita também ou até mesmo por sexo.

Tem uma palestra na internet do venerável Shifu Zhihan falando que quando estamos no apego, centralizados em nosso ego, ficamos nessa ânsia que muitas vezes nem sabemos o porquê de estarmos nessa vibração.

Nessa palestra ele fala sobre os dez exércitos de Mara e conta aquela história incrível sobre quando Mara tentou Buda, quando queria o impedir de alcançar o nibbana durante a meditação.

O que é mais curioso é que o ataque é justo no ego do iluminado.

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Quando Mara manda suas filhas para o seduzirem, quando Buda sente fome, dores no corpo, cansaço, quando se lembra de que deixou seus filhos e sua esposa em seu castelo. Afinal, ele era um príncipe indiano que abdicou de todas as riquezas, regalias e de sua família, por querer buscar a iluminação.

O apego nos traz insatisfação e mais insatisfação, pois somos insaciáveis, sempre estamos querendo algo, desejando algo, não nos contentamos com o que temos. Eu falo de a pessoa nunca ser grata pelo que já tem, para que o universo possa dar cada vez mais. A insatisfação faz com que essa pessoa não consiga se conectar no presente e expressar a gratidão. Pela falta de contentamento, não consegue ser grato e assim não consegue fazer com que sua vida flua, por estar presa a essa ilusão da permanência, de que tudo é eterno, determinado, que tudo já foi roteirizado por algo ou alguém.

Desesperador isso, ao menos para mim. Imagine não poder mudar nada na sua vida? Imagine não poder fazer mudanças na própria vida?

Não teria motivo para a gente se movimentar na vida, apenas ficar sentado e deixar a vida acontecendo, passivos, já que não podemos fazer nada para mudar as coisas, estando tudo já determinado.

Silhueta de um homem de braços abertos ao pôr do sol.
Foto de Snapwire no Pexels

É aí que percebemos que a impermanência faz parte do fluxo do universo, o universo é movimento, é livre.

Nada deveria nos pertencer nem controlar, no sentido de posse, aquele pensamento de “tudo é MEU, a MINHA disposição” e não nos deixar ser controlados, possuídos, perder nossa autonomia.

A ideia do desapego não é viver de forma fria e desregrada, descompromissada, não se importar com os outros, com as consequências, viver no automático, mas ter em mente que “nada me pertence e a nada eu pertenço”.

Viver em liberdade, ser um espírito livre, o desapego é deixar de viver no automático e começar a viver em consciência plena, em unidade, se entendendo como parte do universo, nem melhor, nem pior e nem igual.

É que nem o efeito zenão, que seria o ato de cocriar a realidade que você tanto deseja. Você faz a pergunta para o universo: “Universo, de todas as realidades disponíveis para mim, eu escolhi essa determinada realidade. Quanta consciência eu preciso para que isso se atualize mais rápido em minha vida?” e então você solta ao universo falando a seguinte frase “Entrego, confio, aceito e agradeço”, sem ficar na ansiedade para que isso ocorra e nem que ocorra como quer.

Foto de um homem visto de perfil, com touca e agasalho, de olhos fechados, sorrindo.
Foto de Enoch Patro no Pexels

Quando eu falo sobre não querer possuir e não deixar pessoas te possuírem é parar de querer impor controle sobre os outros, parar de interferir no processo de evolução de alguém e ter responsabilidade por si mesmo.

Quando eu falo sobre não deixar que coisas te controlem ou que você não tente controlar as coisas, é não se deixar levar por elas e não atrapalhar o fluxo natural das coisas. Sabe a linha tênue entre equilíbrio X vícios, saudável X exagerado?

Jamais interferir no fluxo das coisas ou no processo evolutivo de alguém, por não sabermos se dentre todas as possibilidades disponíveis na vida, a melhor entre elas, seria a que NÓS achamos a melhor, sendo que o universo é abundante, livre, a natureza é livre.

Amar não é ter a sensação de posse, como o apego, que vem do ego, traz.

Amar é querer a liberdade, que se desenvolva mais e melhor a cada dia.

A impermanência, o desapego é uma forma otimista de olhar a realidade, que cada dia pode ser melhor do que o outro, a cada dia posso ser a melhor versão de mim mesma.

Gratidão a você que leu esse artigo!

Sobre o autor

Anne Moon

Anne Moon é uma escritora graduada em letras que nasceu e mora em São Paulo com seus pais e com o irmão mais velho. Desde criança adora escrever e contar histórias. Antes dos 10 anos já havia escrito duas histórias de ficção e uma biografia, e aos 14 anos começou a escrever o primeiro volume, “The Rise of the Fallen”, da série de livros “Dark Wings”

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