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Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o que é?

Uma mulher roendo unhas.
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Escrito por Eu Sem Fronteiras

Todo mundo já sentiu aquele friozinho na barriga antes de um acontecimento muito esperado ou importante demais. Aquela sensação que até causa certa expectativa boa. Ou, menos positivamente falando, todos nós também já passamos por momentos de estresse intenso, capaz de provocar uma resposta ao estresse causado no corpo.

Em ambos os casos, reagir assim é considerado absolutamente normal, sendo fruto de um mecanismo de defesa que entra em ação para que fujamos ou enfrentemos uma potencial ameaça ou desafio. É aquilo que chamamos de ansiedade “boa” ou o famoso nervosismo, que é uma condição temporária e se resolve assim que o estresse acaba.

A ansiedade é parte do nosso comportamento, sendo aceitável e até necessária. Se vivenciada de forma saudável e funcional, por nos manter atentos e nos ajudar a encarar e a resolver várias questões do dia a dia, impulsiona-nos a evoluir e a nos adaptar.

O problema é quando essa reação é exacerbada, quando o medo e a reação são desproporcionais ou ocorrem sem que nenhuma situação concreta esteja, de fato, colocando-nos em risco real. É o chamado transtorno de ansiedade generalizada (TAG), sobre o qual nos aprofundaremos neste artigo.

O que é o transtorno de ansiedade generalizada (TAG)?

O TAG é um distúrbio que se caracteriza por excesso de preocupação e expectativa apreensiva não temporárias e de difícil administração. É uma doença classificada pelo Manual de Classificação de Doenças Mentais, sendo um dos cinco tipos de transtornos de ansiedade catalogados pelos médicos.

Desde que a humanidade existe, a ansiedade faz parte do nosso cotidiano. Desde as épocas em que caçávamos ou coletávamos alimentos – vivendo sob a ameaça de predadores e inimigos ou escassez de comida –, passando por invasões de outros povos, urbanização e explosão demográfica, chegando até as preocupações do mundo moderno.

Embora a ideia de que falar de ansiedade é falar da história da humanidade, o termo “ansiedade” com o sentido de doença só começou a ser usado no início do século XVII, antes mesmo de se falar em “Psiquiatria” (que só surgiu mais tarde, em 1808), porém era uma condição considerada “doença do nervo” (daí o termo “neurose”), dissociada do estado mental, fato que só passou a ser cogitado nos primeiros anos do século XIX.

Vista de perfil, uma mulher roendo suas unhas.
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O que podemos entender sobre o transtorno de ansiedade é que, mesmo não estando mais na realidade dos perigos que nossos ancestrais vivenciaram, ainda assim cabe ressaltar que os gatilhos para a ansiedade não advêm somente de riscos potenciais – sejam eles concretos, sejam eles projeções de probabilidades ruins ou apreensivas. Hoje em dia, os estímulos a que somos expostos são muitos e constantes – as redes sociais estão presentes para corroborar isso.

Os efeitos da ansiedade patológica podem ser devastadores em todos os aspectos, pois ela pode causar uma série de eventos prejudiciais ao organismo – como sobrecarregar o coração, elevar a pressão arterial, causar problemas como acne, dores de cabeça e alergias cutâneas.

E, por se tratar de uma doença persistente e de difícil controle, a ansiedade mina a qualidade de vida de uma pessoa. Pode até mesmo ser totalmente incapacitante, dados os prejuízos cognitivos que causa. Veremos mais adiante os sintomas e as complicações que essa doença traz para a vida de quem é acometido.

Causas e sintomas do transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2019, só no Brasil são mais de 18 milhões de pessoas sofrendo de algum tipo de transtorno de ansiedade, número que faz do Brasil o campeão mundial da doença.

Cada pessoa é uma pessoa e os distúrbios emocionais têm grande relação com a particularidade de cada um, entretanto podemos destacar aqui algumas das principais causas, ou melhor definindo, fatores de risco para o transtorno de ansiedade generalizada:

  • Genética;
  • Gênero (as mulheres são as mais afetadas);
  • Eventos traumáticos ocorridos na infância – também na adolescência e, até mesmo, na vida adulta (como doenças graves, estresse ambiental, violência familiar, abusos psicológicos, entre outros);
  • Problemas externos, como insegurança financeira, perda de emprego, separação, luto, assalto etc.;
  • Abuso de substâncias como álcool, cafeína, alguns fármacos e tabaco;
  • Condições médicas, como efeitos colaterais de alguns medicamentos ou doenças da tireoide, por exemplo;

Como vimos mais acima, os números do TAG no Brasil são consideráveis, portanto não é incomum que você já tenha se deparado com uma pessoa ansiosa – ou mesmo você seja essa pessoa –, então já deve conhecer alguns dos sintomas mais comuns do transtorno. Ainda mais se formos analisar os anos de 2020 e 2021, devido ao auge da pandemia de Covid-19 e seus efeitos nas emoções das pessoas no mundo inteiro.

Geralmente, a ansiedade vem associada a outras doenças psíquicas, como a depressão. E identificar os sintomas como sendo da ansiedade pode ser algo complexo, visto que existem os sintomas ansiosos, que não são propriamente o transtorno. Além do mais, grande parte deles também está associada a outras doenças físicas – é o caso de tonturas, enjoos, falta de ar e aceleração dos batimentos cardíacos, que podem estar relacionados a outras doenças.

É por isso que é essencial estar em dia com os exames físicos e, na ocorrência mais frequente de sintomas associados à ansiedade (que vamos listar mais à frente), é necessário buscar a ajuda médica. Apenas o profissional especializado – como o psiquiatra ou psicólogo – pode fechar o diagnóstico dessa doença.

De todo modo, entre os sintomas mais usuais do transtorno de ansiedade generalizada, podemos destacar os seguintes:

Sintomas físicos:

  • suor excessivo;
  • falta de ar e/ou hiperventilação (respiração ofegante);
  • ondas de calor;
  • calafrios e tremores;
  • dor no peito, podendo acompanhar taquicardia (batimentos acelerados);
  • tontura ou vertigem, podendo haver sensação de desmaio iminente;
  • náuseas ou “borboletas no estômago”;
  • tensão ou dor muscular;
  • dor de cabeça;
  • alterações na visão, podendo vir com espasmos oculares;
  • lacrimejamento ou secura dos olhos;
  • micção frequente e/ou dor de barriga;

Como é uma doença que também traz aspectos particulares, pode haver outros sintomas típicos de cada um, mas, como já dissemos, é imprescindível a consulta médica detalhada, para descartar qualquer outra enfermidade que, porventura, partilhe os mesmos sinais.

Sintomas psicológicos, cognitivos e sociais:

  • medo inexplicável;
  • pensamentos intrusivos (que podem envolver preocupações com desgraças, catástrofes, morte, doença, perda de emprego, entre outras);
  • oscilações de humor, irritabilidade e inquietação;
  • insônia;
  • dificuldade de concentração e problemas de memória;
  • sensação de que está sonhando, como se não estivesse no próprio corpo;
  • dificuldade de iniciar e manter uma conversa;
  • preocupação excessiva com a opinião alheia;
  • medo de desagradar, levando a não saber dizer não;
  • visão predominantemente pessimista;
  • bloqueio e paralisação;
  • hiperatividade motora;
  • hábito de roer unhas ou outro que funcione igualmente como válvula de escape.

Há outros vários sintomas, a exemplo dos físicos, que também poderão variar de acordo com cada pessoa. Importante aqui também buscar um diagnóstico conclusivo, para que não haja confusão com outras doenças psíquicas, como o transtorno bipolar.

Um estudo publicado em julho de 2020 pela Universidade de Trento (Itália) no periódico Scientific Reports, da revista científica Nature, mapeou como os diferentes tipos de ansiedade impactam cada área do cérebro. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que há duas formas de manifestação: o estado de ansiedade (proveniente de eventos estressantes) e o traço de ansiedade (referente a pessoas naturalmente ansiosas).

O intuito desse estudo foi entender melhor como funciona o mecanismo da doença e buscar tratamentos direcionados, que poderão atender especificamente cada problema. São achados que podem também viabilizar um diagnóstico mais preciso e um tratamento mais eficiente, visando inclusive atenuar os sintomas desse transtorno antes que eles se tornem crônicos.

Formas de controlar a ansiedade e tratamento

Como já explicamos ao longo deste artigo, é essencial procurar um médico para fazer o diagnóstico correto, com base em avaliação clínica criteriosa e, se for o caso, a realização de exames médicos.

Um médico segurando a mão de um paciente. Ao lado deste, frascos de medicamento.
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A consulta com o profissional especializado é necessária para você saber se realmente sofre desse distúrbio ou não. Ou, ainda, se não sofre de qualquer outro transtorno psíquico, que obviamente demandará condutas e tratamentos distintos.

Uma vez diagnosticado corretamente o transtorno, parte-se para o tratamento, que geralmente pode combinar os seguintes processos:

  • Medicamentos: existe uma classe específica para o tratamento da ansiedade, mas somente o médico está habilitado para identificar e receitar. E isso se deve por uma série de motivos. Primeiramente, esses medicamentos apresentam efeitos colaterais sérios. Além disso, alguns deles demoram um pouco para mostrar resultados. E, por fim, se não der certo e você abandonar por conta própria, você poderá ter problemas, já que o desmame – como é chamada a retirada do medicamento – pode provocar reações negativas. E o acompanhamento médico se faz essencial em todas essas fases. Portanto, nada de pegar dica de remédio com amigo, parente e tampouco partir para a automedicação!
  • Psicoterapia: tão importante quanto o medicamento, a psicoterapia é essencial para nos ajudar a entender e a lidar com nossas emoções, reorganizando e preparando a mente para lidar com pensamentos, sentimentos, gatilhos e situações em que a crise se deflagra. O psicólogo e o psiquiatra são os profissionais adequados nesse processo.

Vale ressaltar que o psicólogo não pode receitar nenhum tipo de medicamento, pois apenas o médico tem essa prerrogativa. Nesse caso, entre os dois mencionados aqui, apenas o psiquiatra pode prescrever remédios.

Bom, o primeiro passo já foi dado, então é hora de buscar formas de minimizar o impacto da ansiedade em sua vida, como praticar atividade física. Todos sabemos que movimentar o corpo é um meio de manter uma vida saudável no geral – a OMS, por exemplo, preconiza pelo menos 150 minutos semanais de exercícios moderados.

Um homem realizando uma corrida num gramado.
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Para engrossar a lista de benefícios dessa prática, não faltam estudos que comprovam que ela pode não só minimizar os sintomas da ansiedade mas também evitar o seu surgimento. E uma pesquisa publicada no periódico Frontiers in Psychiatry, em setembro de 2021, revelou que se exercitar regularmente pode reduzir em até 60% os riscos para o desenvolvimento desse transtorno.

E mexer o corpo não significa estar em uma academia ou em casa levantando algum peso. É claro que existem determinadas atividades físicas que podem ter impactos mais eficientes sobre o problema, mas o importante é não ficar parado, já que se movimentar ajuda a produzir uma série de hormônios bons, inclusive para as emoções, proporcionando bem-estar.

Falando em bem-estar, é possível também inserir outras práticas ao seu dia a dia para ajudar a controlar ou ao menos minimizar os sintomas da ansiedade, como:

  • Fazer meditação;
  • Ouvir música;
  • Praticar o mindfulness, ou atenção plena;
  • Praticar yoga;
  • Dedicar parte do dia para cuidar de si;
  • Adotar hábitos saudáveis, como dormir adequadamente, alimentar-se bem e beber bastante água;
  • Aprender a entender os sentimentos;
  • Não focar em hipóteses ou possibilidades – o que não aconteceu, não aconteceu. É preciso se preocupar com o aqui e o agora;
  • Saber dos próprios limites e aprender a praticar o autorrespeito;
  • Aprender a dizer “não”;

Há uma série de outras ações que você pode praticar nessa busca pelo equilíbrio das emoções, mas lembre-se de que não há como se autodiagnosticar com transtorno de ansiedade generalizada e o mais importante ainda: não se automedique, tampouco “experimente” aquele medicamento que deu certo para o amigo, o colega de trabalho, um parente, pois só o médico é quem pode medicar.

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Se você está passando por esse problema e ainda não tem um diagnóstico, procure seu médico, a fim de que seja orientado da forma adequada. A ansiedade como transtorno pode ser assustadora na maioria das vezes, mas ela tem tratamento e você pode vencer esse desafio com a ajuda adequada. Ademais, depende de você procurar essa ajuda e seguir em busca de equilíbrio e de levar sua vida para o ponto em que ela estava antes da chegada desse “hóspede” indesejado.

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